quarta-feira, 26 de maio de 2010

O NOME, O SÍMBOLO, A LEGENDA …

Armando Silva Pais, a pág. 91 do II volume da sua notável obra "O Barreiro Contemporâneo", publicada pela Câmara Municipal do Barreiro, em 1968, diz-nos que o “Clube 22 de Novembro” foi fundado por “um grupo de amadores dramáticos”, composto por “comerciantes, industriais, empregados dos Caminhos de Ferro e de outras empresas aqui instaladas, funcionários municipais, estudantes e indivíduos de várias profissões liberais” que, de acordo com o mesmo estudioso da história local, constituíram “sempre predominantemente a sua população associativa”.

Sendo esta a génese do Clube, fácil é perceber que, desde início, uma intensa carga cultural tenha constituído a “marca” da Instituição.

Isso é visível na escolha do nome, do símbolo e da legenda que, em faixa, consta do emblema. 

Permitam-me, então, discorrer um pouco sobre tais elementos identitários.

1ª questão

Porquê “Clube” quando as principais Associações existentes, com fins similares, se denominavam “Sociedade”? Veja-se o exemplo das “Sociedade Democrática União Barreirense “Os Franceses”” e “Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense “Os Penicheiros”.

A resposta estará no carácter de certo modo “familiar” e tematicamente motivado que inspirou a sua criação. Era gente dedicada ao teatro, num espaço exíguo e onde, como diz A. Silva Pais, a “selecção processava-se, então, naturalmente, e essa era a sua maior virtude”.

Era “Clube”, em suma, dadas as suas características especiais.

2ª questão

Porquê “22 de Novembro”?

A resposta óbvia é: Porque foi fundado nesse dia, em 1909! Pois, mas a prática não era essa… Os nomes das colectividades barreirenses, mesmo quando contêm referência a datas, constituem todo um programa, quer se trate de clubes desportivos quer de sociedades recreativas! Excepto neste caso!

O mais certo é que essas pessoas tenham querido marcar o carácter especial desse dia. Acontece que foi em 22 de Novembro, no ano de 1497, que Vasco da Gama dobrou o Cabo da Boa Esperança, na procura de um caminho marítimo para a Índia.

E foi essa data que os fundadores, pessoas com uma enorme curiosidade cultural, quiseram comemorar.

3ª questão

Porquê a Cruz de Cristo, a Nau e a Legenda, “E se mais mundos houvera lá chegara” ?

Esclarecida a questão da data que faz parte do nome, fácil é perceber a presença da Cruz de Cristo e da Nau no seu emblema.

É claro que os fundadores pretenderam homenagear a gesta dos Descobrimentos Portugueses!

E o mesmo se diga da legenda. Trata-se do último verso da estrofe 14, do canto VII de “Os Lusíadas”. Relembre-se toda a estrofe:
Mas, entanto que cegos e sedentos
Andais de vosso sangue, ó gente insana,
Não faltarão Cristãos atrevimentos
Nesta pequena casa Lusitana:
De África tem marítimos assentos;
É na Ásia mais que todas soberana;
Na quarta parte nova os campos ara;
E, se mais mundo houvera, lá chegara.

Portanto, em conclusão, a legenda que figura no nosso emblema mais não faz que reforçar essa homenagem!